quarta-feira, 19 de setembro de 2012

PAULO E A TRADIÇÃO HUMANA


Paulo, apóstolo de Cristo Jesus pela vontade de Deus, segundo a promessa da vida que está em Cristo Jesus,
a Timóteo, meu amado filho:
Graça, misericórdia e paz da parte de Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Senhor. (2 Timóteo 1.1-2)
Como Paulo escreve em outro lugar, ele foi “circuncidado no oitavo dia de vida, pertencente ao povo de Israel, à tribo de Benjamim, verdadeiro hebreu” (Filipenses 3.5). Ele era um dos fariseus, uma seita muito rigorosa da religião judaica. Antes de se converter à fé cristã, tudo isso contava como algo, mas depois ele perceberia que seu pano de fundo não lhe rendeu nenhum favor aos olhos de Deus. Ele teria que se chegar a Deus de outra forma.
Lucas apresenta-o em Atos 7. Ele era chamado Saulo naquele tempo, e consentiu quando os judeus apedrejaram Estevão até à morte. De uma perspectiva não cristã, ou da perspectiva daqueles cegos para a verdade, Saulo era um judeu perfeito, um fariseu justo, um erudito altamente credenciado. Contudo, a verdade era que ele era um cúmplice do assassinato de um homem inocente. Em Atos dos Apóstolos, essa é a primeira coisa que aprendemos sobre ele.
Saulo continuou nessa direção, e Atos 9 registra que ele “respirava ameaças de morte contra os discípulos do Senhor”. Ele recebeu autoridade do sumo sacerdote para visitar Damasco, a fim de capturar e aprisionar os cristãos dali. Parece que uma pessoa que perseguiria, aprisionaria e até mesmo assassinaria outros deve ser séria sobre suas próprias convicções. De fato, ele era um homem zeloso. Mas como mais tarde admitiria, ele agiu em “ignorância e incredulidade”. Seu zelo não era informado pela verdade, e não procedia de uma abertura para com Deus, ou fé no que Deus tinha revelado. Aqueles que se opõem e perseguem os cristãos são, por definição, pessoas injustas e sem inteligência.
Sua religião não o tornou um homem piedoso. Fez dele um assassino. O problema não estava na religião em si. Saulo tinha um tipo específico de religião: ou foi essa religião que o tornou um assassino, ou ele tornou-se um assassino porque seu comprometimento a essa religião era defeituoso ou distorcido. Contudo, sua devoção à sua religião pareceria “irrepreensível” (Filipenses 3.6). Dessa forma, mesmo que houvesse um lado pessoal e subjetivo em seu grande erro, havia também um lado público e objetivo.
Havia algo errado em sua religião. Não estou me referindo à religião do Antigo Testamento. Esse é o equívoco que muitas pessoas fazem – eles assumem que a religião dos judeus e dos fariseus era a religião do Antigo Testamento. Não, embora a religião deles fosse baseada no Antigo Testamento, em geral era muito diferente e mesmo antagônica a ele, contradizendo-o em espírito e em letra. Algumas pessoas cometem o equívoco de pensar que os fariseus eram hostis a Jesus porque eles eram muito inflexíveis quanto a seguir a lei de Moisés ou o Antigo Testamento. Mas eles faziam o oposto. Jesus disse que eles anulavam os mandamentos de Deus por meio das suas tradições (Mateus 15.6). Eles tinham inventado regras e costumes que eram supostamente consistentes com os mandamentos de Deus, mas que na verdade redefiniam e substituíam os mandamentos de Deus em suas vidas. Ele disse que a profecia de Isaías se aplicava a eles: “Em vão me adoram; seus ensinamentos não passam de regras ensinadas por homens” (Mateus 15.9).
A religião dos judeus e dos fariseus não era a religião do Antigo Testamento. Era um sistema que eles tinham fabricado para se escusarem de aceitar as palavras dos profetas. Jesus disse que eles nem mesmo criam no Antigo Testamento: “Se vocês cressem em Moisés, creriam em mim, pois ele escreveu a meu respeito. Visto, porém, que não creem no que ele escreveu, como crerão no que eu digo?” (João 5.46-47). A fé em Cristo, e dessa forma a fé no Novo Testamento, segue-se naturalmente da fé no Antigo Testamento, porque Cristo cumpriu o Antigo Testamento. Os judeus e os fariseus não seguiam a revelação de Deus, mas sua própria tradução humana. Devemos corrigir a ideia que eles eram hostis a Cristo porque eram muito obcecados com a precisão em sua doutrina e obediência. Não, eles eram hostis a Cristo porque se preocupavam muito mais sobre como evitar crer e obedecer à palavra de Deus enquanto davam a aparência de devoção religiosa, e Cristo expôs a hipocrisia deles.
Assim, Paulo, ou Saulo, era um homem zeloso. Mas esse zelo por sua religião o levou a ódio e assassinato contra o povo de Deus. Alguns poderiam dizer que isso era um caso de zelo mal direcionado. Isso não é inteiramente errado, mas a questão não era tão simples. Zelo não é uma atitude ideologicamente neutra – uma pessoa é zelosa por algo. Visto que uma pessoa é zelosa por algo, isso significa que zelo tem conteúdo, e visto que o conteúdo – as crenças ou ideologias – pode ser correto ou errado, então o zelo pode ser correto ou errado. Portanto, quando o zelo de uma pessoa o leva a fazer algo errado, se esse zelo é consistente com e um produto de sua ideologia pelo que ele é tão zeloso, então o próprio zelo é errado. Ele não é apenas um zelo mal direcionado, mas um zelo errado ou perverso, e um tipo diferente de zelo daquele zelo pelo que é verdadeiro e correto.
Não devemos supor que Paulo tinha uma atitude zelosa natural que era boa em si mesmo, mas apenas mal direcionada, e que esse zelo fez dele um crente mais eficaz uma vez que o zelo foi redirecionado pelo evangelho. Novamente, isso assume que zelo pode ser considerado em si mesmo, à parte daquilo pelo que a pessoa é zelosa, de forma que uma pessoa pode usar o mesmo zelo para esse ou para aquele, dependendo de como ele é direcionado. Contudo, o zelo não pode ser separado da ideologia. Não, Paulo tinha o tipo errado de zelo, um zelo que o tornou um assassino. Era um tipo de zelo que, por sua própria admissão, era baseada na “ignorância e incredulidade”. O zelo que ele exibiu como um cristão era baseado num fundamento inteiramente diferente, um que foi gerado pela obra do Espírito e um entendimento correto da graça do Senhor Jesus Cristo. E visto que o Espírito opera em todos do povo de Deus, e visto que todos do povo de Deus podem entender a graça de Deus, todos os cristãos podem possuir grande zelo pelas coisas de Deus. Isso não é algo que pertence a pessoas como Paulo à parte do evangelho, mas algo que é tornado disponível a todos os que creem no evangelho.
A fé de Jesus Cristo era o cumprimento das palavras dos profetas. Paulo não viu isso no início. Ele percebeu Cristo como uma ameaça à sua religião, embora grande parte dela não fosse procedente da religião do Antigo Testamento, mas da tradição humana, isto é, da invenção humana. Assim como Ismael zombou de Isaque, o filho da promessa, e assim como os fariseus perseguiram Cristo, o Filho da Promessa, os judeus perseguiram os cristãos. Os herdeiros da tradição humana sempre perseguirão os herdeiros da revelação divina. Não devemos ter a mínima simpatia pela posição de Paulo antes de sua conversão. Ele seguia a tradição em vez da Palavra de Deus. Seu entendimento da lei era errado. Ele nem mesmo cria no que foi escrito por Moisés. Se tivesse crido na Palavra de Deus, ele teria crido no evangelho de Cristo prontamente. Mas ele não o fez. Ele estava errado.

SAUDAÇÕES EM CRISTO! 












Pr.Douglas Camargo


terça-feira, 18 de setembro de 2012

O QUE É PIETISMO?

 PIETISMO

Pietismo é uma visão que olha para o mundo mais amplo como uma questão de extrema insignificância, pois se foca exclusivamente em tornar a alma individual melhor. Radicalmente individualista e profundamente gnóstico, o movimento evita o envolvimento político, denigre o exercício do domínio e algumas vezes faz adições à lei de Deus. Isso, sem dúvida, nunca deveria ser confundido com piedade, que é algo bom. Piedade é santidade no caráter, um zelo de crescer em graça e sabedoria, dar muito fruto do Espírito. Porque essas duas coisas são frequentemente confundidas, não é incomum aqueles mais relaxados na busca da santidade acusar os mais zelosos de pietismo. De forma semelhante, não é incomum alguns que são apaixonados em reafirmar os direitos régios do Rei Jesus, que anseiam em ver o Seu reino reconhecido, desdenhem a busca da piedade pessoal como uma distração.
Nosso chamado, sem dúvida, é trabalhar para manifestar o reinado de Cristo sobre todas as coisas, incluindo nossas almas. E devemos fazer isso em círculos concêntricos. Isto é, minha primeira obrigação é buscar a minha própria santidade. Em seguida devo trabalhar para ver que meus filhos cresçam na graça. Em seguida estão aqueles sob o meu cuidado pastoral, direta ou indiretamente. Finalmente devo trabalhar para ver todas as instituições sob o Seu domínio. Todos nós deveríamos reconhecer quão firmemente ligadas essas coisas são. O mundo, a igreja, minha família melhorarão à medida que eu melhorar. Não abandonei essas coisas para buscar uma piedade maior; estou buscando uma maior piedade servindo a Deus nessas áreas. Da mesma forma, purificar o mundo, a igreja e a minha família por sua vez redundam para minha própria santificação. Ninguém pode errar ao trabalhar para ver a glória e a beleza da autoridade de Cristo mais amplamente reconhecida.
Dito isso, eis aqui alguns exemplos onde a piedade termina e o pietismo começa. Não é incomum ouvir alguns cristãos bem intencionados argumentarem que não deveríamos tentar tornar o aborto ilegal, pois, somos informados, “Isso é uma questão do coração”. Em vez disso, somos informados que precisamos somente trabalhar para ganhar almas, e a questão do aborto cuidará de si mesma. O mesmo, sem dúvida, poderia ser dito sobre o assassinato. O assassinato é ilegal, e as pessoas ainda o praticam. Dessa forma, por que ver os assassinos processados? Ganhar almas não é muito mais importante? Bem, o Senhor a quem alegamos adorar estabeleceu o Estado como um instrumento de justiça. Ele deu a esse Estado a espada para punir os malfeitores. Isso significa que ele chama o Estado a proteger os não nascidos. É impiedade abandoná-los mediante o abandono do nosso chamado profético ao mundo. Sem dúvida deveríamos buscar ver almas alcançadas. Assim como deveríamos buscar ver a justiça sendo feita para com os não nascidos.
Isso nos leva ao nosso segundo exemplo. Há aqueles que argumentam que a única função da igreja é a Palavra e os Sacramentos. A Bíblia, nos é dito, não fala diretamente sobre questões políticas. A igreja não deveria estar falando contra comportamento homossexual. A igreja não deveria falar em favor dos não nascidos. Cultura é simplesmente cultura, uma realidade humana mais que uma realidade espiritual. Não há, portanto, tal coisa como trazer a carpintaria, poesia ou política sob o Senhorio de Cristo. Isso é pietismo. Ele pode estar disposto a afirmar o Senhorio de Cristo sobre todas as coisas, mas não de uma forma que você possa dizer que Jesus reina. A Palavra nos chama a fazer o Seu reinado conhecido, a destruir as obras do diabo e suas tropas diabólicas. E os sacramentos alistam (batismo) e alimentam (Ceia do Senhor) o Seu exército.
Pietismo é uma palavra feia, e podemos ser culpados de usá-la demasiadamente. Um problema, contudo, é que o pietismo é uma realidade feia. A piedade nos chama a sair e demonstrá-la lá fora, em nome do nosso Rei ressurreto e soberano.

SAUDAÇÕES EM CRISTO

Fonte: Highlands Ministries













Pr.Douglas Camargo 

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O JUIZO FINAL vs.RELATIVISMO

 O JUIZO FINAL vs.RELATIVISMO
A doutrina do Juízo Final de Deus testifica contra todas as formas de relativismo. É por isso que o liberalismo secular rejeita esta doutrina cristã. O conservadorismo secular também. A doutrina do Juízo Final de Deus anuncia que certas ideias são eternamente verdadeiras e, portanto, que outras ideias são eternamente falsas. Deus irá impor sanções negativas irreversíveis contra aquelas pessoas que acreditam em determinadas doutrinas teologicamente incorretas, como a negação das seguintes verdades: “Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus”. (Jo 3.36) “Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim”. (Jo 14.6) A doutrina do Juízo Final faz com que os transgressores do pacto fiquem sem escapatória. Não há saídas. Não haverá acordos judiciais no Dia do Juízo.
O Juízo Final de Deus é o fundamento dos julgamentos temporais dos homens. A habilidade dos homens de julgarem corretamente somente existe porque os homens são criados à imagem de Deus. Os homens podem exercer juízo preliminar porque Deus irá exercer o Juízo Final. Se Deus não irá exercer o Juízo Final então todos os julgamentos humanos não tem fundamento moral ou estético. Tudo que os homens fizessem seria sugado pelo relativismo e impessoalidade cósmica.
Há três visões científicas sobre a história cósmica, a parte da doutrina da Criação e Juízo Final. A primeira é a morte térmica do universo. Esta é a posição cosmológica mais popular em nossos dias. Defende que o mundo está se acabando. Se estiver, então seu fim será o triunfo da insignificância e impessoalidade do zero absoluto sobre toda a vida e sobre todo processo natural que supostamente pode levar a vida no cosmos. A segunda visão mais popular é a ideia da história cíclica. Tudo se repete. A versão da ciência cósmica desta doutrina antiga é a eterna expansão e contração do universo. E a terceira é a visão da criação e destruição contínua. Átomos de hidrogênio aparecem e desaparecem do nada. (Esta teoria estacionária do universo não é popular entre cientistas. Foi dificultada pela falha dos satélites orbitais em detectar a radiação que a teoria exige). Todas as três visões refletem uma impessoalidade cósmica. Não há Deus para imputar sentido a história ou natureza.
A ideia de imputação é a ideia de julgamento. Imputar é exercer juízo. Os homens avaliam o sentido, propósito ou papel histórico deste ou daquele evento. Como poderiam fazer isso com base na própria autoridade? Qual sentido, propósito ou papel tem o julgamento de qualquer pessoa? Depois que ele morrer, qual sentido, propósito ou papel sua vida de julgamentos possuirá em retrospectiva? Quais de seus sucessores temporais determinará isso com autoridade? Como qualquer sucessor poderá impor seus julgamentos retroativamente? Ele também é mortal. Ele morrerá. O último juiz humano no processo terá a última palavra. Mas, se ele também, enfim, for engolido pela insignificante e impessoal força natural da morte, então ninguém terá a palavra final. Tudo acabará sendo revelado como sem sentido quando não há agente capaz de exercer juízo retrospectivamente.
O homem moderno prefere declarar uma doutrina oficial de relativismo. Ele declara essa doutrina com autoridade. “Tudo muda, nada é permanente”. Esta é uma visão revisada da doutrina de Heráclito de que, na história, tudo flui. “A mudança é a essência da realidade”. Mas isso significa um mundo sem significância final, um mundo sem julgamentos fixos. Isso significa o triunfo do relativismo. O homem pagão moderno imita o pagão da antiguidade e prefere o relativismo em vez do Juízo Final de Deus. O relativismo é o transgressor do pacto dizendo para si mesmo em seu próprio “juízo final”: “Inocente!”.

Relativismo Cristão

A apresentação do Evangelho – as boas notícias de Jesus Cristo – necessariamente envolve a doutrina do Juízo Final por Jesus Cristo: a notícia terrível. As sanções positivas da salvação de Deus sobre alguns somente faz sentido no contexto das sanções negativas da condenação de Deus sobre outras pessoas. Portanto, os cristãos devem exercer um juízo preliminar contra aqueles que rejeitam a doutrina da expiação substituta de Cristo. Eles dizem aos ouvintes: “Nenhuma decisão é, na verdade, uma decisão: uma decisão contrária”. Estão certos. Julgamento é um conceito inevitável. Ao ignorar Jesus Cristo, os homens estão exercendo juízo contra Ele. Nenhuma decisão é também uma decisão. O pecado original começa com uma decisão contra Cristo. Cristãos pressupõe isso quando anunciam o direito legal de Cristo sobre seus ouvintes.
Ao mesmo tempo, cristãos sentem-se ressentidos com os julgamentos feitos contra eles por outros cristãos. Acusam seus críticos cristãos de serem muito críticos, como fariseus. Dizem que estão com Jesus contra o farisaísmo. Eles não se fazem a seguinte pergunta decisiva: “Sob que base legal Jesus acusou os fariseus se não foi sua visão correta sobre Deus, o homem, a Lei, sanções e o tempo?” Julgamento é um conceito inevitável.
A questão divisória aqui não é a existência de julgamento. Julgamento é inevitável. Não existe neutralidade na vida. A questão é se o julgamento é correto ou não: a legitimidade da autoridade do juiz para exercer juízo, a autoridade de seus padrões, a precisão de sua aplicação destes padrões sobre eventos e ideias específicas. Cristãos ingênuos preferem citar Mateus 7.1: “Não julgueis, para que não sejais julgados”. Eles não compreendem que Jesus deu este aviso no Sermão da Montanha, no qual ele emitiu sanções verbais negativas e positivas. Eles não compreendem que Jesus estava convocando seus discípulos para exercer julgamentos de forma bíblica como afirmação do direito de ser julgado de forma bíblica:
“Não julgueis, para que não sejais julgados. Porque com o juízo com que julgardes sereis julgados, e com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir a vós. E por que reparas tu no argueiro que está no olho do teu irmão, e não vês a trave que está no teu olho? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, estando uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho, e então cuidarás em tirar o argueiro do olho do teu irmão”. (Mateus 7.1-5)
O que Ele queria não era afirmar a necessidade moral de não julgar lascas nos olhos dos outros. O que ele queria mostrar é que críticos precisam julgar com precisão a condição visual dos próprios olhos como um passo preliminar para julgar a condição visual dos outros. Mas muitos cristãos são cegos quanto a isso. Eles livremente julgam o status judicial de não cristãos, mas depois relegam questões morais e doutrinárias a um status periférico na Igreja. Este é um posicionamento esquizofrênico, mas é popular.
Todo cristão quer ficar na sua zona de conforto moral, teológico e estético ao mesmo tempo em que exerce juízo contra os antinomistas a sua esquerda e os legalistas a sua direita, cuja autoridade ele rejeita. Mas a seguinte pergunta epistemológica é inevitável: Qual é o padrão? Católicos Romanos expulsaram a Igreja Ortodoxa em 1054. O Leste respondeu da mesma maneira. Os Protestantes deixaram o Catolicismo Romano no século dezesseis. Mais anátemas mutuas por toda parte.

A Primeira Carta de Paulo aos Coríntios

A epístola lida com a importância de exercer juízo: dentro da Igreja e contra o mundo. Paulo pressionou a Igreja a se posicionar contra uma pessoa que havia cometido incesto (capítulo 5). Ele também mandou que eles evitassem ir a tribunais seculares para resolver disputas com outros cristãos (capítulo 6). Em nenhum dos dois casos, ele manda que evitassem julgamentos.
A epístola é baseada na necessidade de exercer juízo na vida, começando com o juízo de si mesmo. Por que isso é necessário? Por causa do Juízo Final de Deus. “A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo”. (I Co 3.13-15)
Ray Sutton costumava dizer que a melhor maneira para um pastor novo dividir a congregação é começar seu ministério na Igreja com uma série de sermões sobre I Coríntios. Não tenho dúvidas de que a constatação de Sutton é correta. Ele recomenda começar com um dos Evangelhos. Isso é sábio se o objetivo do pastor for evitar divisões na congregação. Mas não estou persuadido de que este é sempre o objetivo correto. Algumas congregações precisam se dividir rápido pelo poder divisor da mensagem bíblica de julgamento. A unidade que Paulo proclama no capítulo 12 só poderia existir pela imposição de excomunhão no capítulo 5.
Sutton também recomenda que a Ceia seja semanal, mas ele diz que isso também causa divisão: o meio eclesiástico de impor as sanções de Deus. As sanções que Deus trás por meio do sacramento da Ceia do Senhor não podem ser evitadas. Paulo, no capítulo 11, avisa sobre o perigo de tomar a Ceia em pecado: Sede meus imitadores, como também eu de Cristo. “Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados”. (I Co 11.1-31) As sanções de Deus são verdadeiras. É importante julgar a si mesmo como meio de evita-las.
A Igreja é limpa do pecado e pecadores por meio de pregações que falam da inevitabilidade do Juízo, da Ceia que trás o Juízo e da disciplina formal previsível. Estas são as três marcas de uma igreja fiel. Sem o juízo piedoso não há uma igreja. Há somente um encontro semanal.

SAUDAÇÕES EM CRISTO!